Histórias de Sucesso

Como tudo começou

Um pouco da minha história…

Foi a partir do sumiço de meu irmão, em 1997, que eu vim a saber o que realmente acontece nos bastidores de uma história de desaparecimento e a partir daí transformamos nossa vida numa busca sem fim.. Nesse caso, dez anos não são dez dias, mas posso afirmar que equivalem a cem anos da nossa vida.

Procurar onde, num país tão imenso? Inicialmente a esperança era encontrá-lo na casa de um parente distante, amigos, colegas de trabalho, mas ao passar dos meses a dura realidade começou a tomar forma e então as perguntas se acumularam em busca de uma resposta que não vinha: Onde ele está?

Muitas pessoas, a maioria, não entendiam o porque do meu quase desespero em procurar um irmão; alguns chegavam a dizer que eu estava buscando um problema! Outros diziam que eu estava enlouquecida e não enxergava que ele já deveria estar morto e me aconselhavam a parar com aquilo. As pessoas não entendiam, não conheciam nosso histórico de família e nossa infância tão marcada por um destino doloroso. Meus dois irmãos, fora os meus filhos, são o pouco que restou da minha família e eu não me conformava com o desaparecimento, aparentemente sem motivo, desse irmão mais velho.

Igrejas, albergues, hospitais, necrotérios, em tudo eu busquei. A uma certa altura comecei a imaginá-lo atrás de cada mendigo deitado no chão e fui tantas vezes checar se não era ele quem estava ali debaixo de uma barba comprida ou encolhido embaixo de um papelão rasgado. Imaginá-lo passando frio ou encharcado pela chuva, tornou-se um suplício, e nas muitas viagens que fiz, ao deparar com um andarilho na estrada, não conseguia seguir além, antes de confirmar se não era o Jorge Gustavo quem estava ali…Mas tudo em vão.

Nove anos se passaram sem que eu tivesse qualquer notícia dele. Sentia-me só e inconformada. Em 2006 começava o Orkut, e foi a partir dele que eu comecei a postar avisos de meu irmão desaparecido em várias comunidades, até que um dia, minha amiga Marcia, solidária com minha dor, me presenteou com uma comunidade que ela fez para ele, com o nome ONDE ESTÁ VOCÊ JORGE GUSTAVO? O objetivo era divulgar a foto e informações dele e assim foi feito, mas aconteceu algo que eu não esperava. Pessoas e mais pessoas começaram a postar casos de desaparecimentos ali, procurando irmão, pai, mãe, filho; eram tantos que eu fiquei impressionada e descobri que esse era um problema muito maior do que eu imaginava.

Amigos, amigos, amigos…por Deus! quantas pessoas me estenderam a mão, pessoas que eu não conhecia mas que se emocionavam com a minha insistência e persistência em encontrar o Jorge Gustavo. Tornaram-se grandes amigos, a maioria me acompanha até hoje na rede, Orkut, Facebook, Google +,Twitter, blogs e tudo que tenho feito. Muitos, a partir daí, se tornaram voluntários da causa, isso me trás uma alegria imensa como um dos resultados positivos pela busca por meu irmão!

Foi através desses amigos que fiquei sabendo que os documentos dele, na época, CPF e Título de Eleitor, estavam cancelados. Me informaram que isso poderia ser indício de falecimento da pessoa.

Especial agradecimento à todos os amigos da internet, que foram solidários, que me incentivaram, ajudaram na divulgação do meu apelo pelo Jorge Gustavo Desaparecido; deram apoio moral quando eu fraquejava na minha busca diante de tantos insucessos…. Tenho-os todos em meu coração para sempre.

Dedico Desaparecidos do Brasil e todo este trabalho voluntário à todos que ainda buscam por alguém e assim como eu tive, eles também tem grandes dificuldades para encontrá-los, mas vale lembrar sempre, acima de nós existe um ser maior, o nosso criador, nosso Pai, e ele nunca abandona a gente, podem acreditar! (iab)

Longa busca por um parente
Reportagem: Diário Catarinense (2007)

DEZ ANOS SE PASSARAM ATÉ QUE UM DIA….

” É da casa da Amanda? …”

Telefone, Internet, correio. Nenhuma tecnologia foi tão importante quanto a solidariedade humana para I.Amanda Boldeke, de Florianópolis, conseguir encontrar seu irmão, desaparecido há 10 anos.

Em 1997, Jorge Gustavo Paulo Boldeke saiu da casa da irmã, com quem morava, em direção a Pontal do Sul, no Paraná, onde tinha parentes, para procurar emprego. La permaneceu alguns anos e depois de algum tempo, os familiares mudaram de cidade e Jorge não quis ir com eles. Foi aí que começou a peregrinar, à procura de trabalho mas a dificuldade era muito grande devido ao seu problema visual que beirava a uma semi-cegueira.
” Virei o que se chama de andarilho. Parava, trabalhava e seguia atrás de algo melhor.”

Ele pensava em voltar, mas perdeu os documentos e não sabia se a irmã ainda morava em Florianópolis. Sem dinheiro nenhum e sem trabalho, enxergando cada vez menos, resolveu continuar pelo caminho. Ganhava comida nos restaurantes e dormia nos postos de gasolina, na beira da estrada. Com o tempo, acabou com a saúde prejudicada, quase não conseguindo mais enxergar e com fortes dores na coluna.

Enquanto isso, em Florianópolis, Amanda fazia de tudo para encontrar o irmão. Registrou boletim de ocorrência, divulgou o desaparecimento através de ONGs e sites dedicados ao tema e criou comunidades no site de relacionamento Orkut. Tentou, também, obter informações com órgãos públicos, sem sucesso. “Não existe ajuda para quem procura um parente desaparecido, a polícia apenas registra o B.O. e fica por isso mesmo. A gente fica com o coração apertado, procurando nos lugares mais absurdos…eu via mendigos deitados na praça e pensava: Será que não é ele? Procurei em hospitais, albergues, em várias cidades, mas o Brasil é tão imenso, jamais pensei encontrá-lo no Mato Grosso do Sul…”

No último sábado, Jorge chegou à cidade de Bataguaçu, no Mato Grosso do Sul. Foi lá, na região Centro-Oeste, que conheceu Edmílson Félix, dono de uma peixaria, que se interessou por sua história e providenciou comida e roupa limpa. Edmílson descobriu o telefone de Amanda e entrou em contato. Também pressionou a prefeitura para que fornecesse a Jorge uma passagem para Florianópolis e conseguiu um carro para levar o novo amigo para a cidade paulista de Presidente Prudente, a 120 quilômetros dali, onde ele embarcou em um ônibus direto para a Capital, na última quinta-feira.

” Ele largou a peixaria e ficou correndo atrás disso” – conta Amanda , agradecida.

Após a longa espera, Jorge finalmente chegou a Florianópolis. O encontro entre irmão e irmã na rodoviária foi emocionante.

” Eu faço questão que ele fique aqui comigo. Eu e os meus filhos – somos a família dele”.

Agora, eles se dedicam a providenciar novos documentos para Jorge. Sem eles, não pode agendar uma consulta médica, que, no seu caso, é urgente. Por isso, estão em busca de ajuda para o tratamento. Enquanto isso, Amanda divulga na Internet o encontro com o irmão.

O objetivo é alertar os órgãos federais para ajudar quem busca parentes, facilitando o acesso a informações. E também transmitir esperança, para que eles não desistam nunca.

ESTEPHANI ZAVARISE (Diário Catarinense)
► MARÇO 2007

► Esta é a história de Jorge Gustavo, que motivou Amanda iab a dar início a DESAPARECIDOS DO BRASIL. e posteriormente a este site.
PS: em 2014 a rede ORKUT foi retirada do ar e importantes comunidades infelizmente se perderam.

Que a esperança esteja sempre presente no coração daqueles que tem fé .(iab)

A comunidade do Jorge Gustavo não parava de crescer, antão aconteceu o primeiro encontro de uma pessoa através dela. Uma história bonita de um senhor encontrado em Pernambuco já com idade avançada. Ele desapareceu de Paranavaí/PR há 35 anos atrás, havia perdido a memória e a família não tinha ideia de onde estava. Uma Assistente Social postou na comunidade que havia um senhor que dizia ser do SUL, não lembrava de mais nada e com pesquisas de amigos foi descoberta a família dele no PR pelo Manuel Poeta.

Isso me fez pensar… Se eu não podia encontrar meu irmão, que pelo menos a Comunidade do Jorge Gustavo fosse útil para encontrar outras pessoas, e foi assim que mudei o nome dela, de “Onde Está Você Jorge Gustavo?” para Desaparecidos do Brasil, sete meses após tê-la criado. A comunidade nunca mais parou de crescer e outras pessoas foram sendo localizadas através de ações de amigos que ali se tornaram voluntários da causa. Até hoje continua recebendo adeptos, mesmo e apesar do que falam da decadência do Orkut, mas para encontrar desaparecidos ele é uma ferramenta poderosa.

A certa altura comecei a ter problemas, porque ficava sem condição de organizar tudo aquilo, centenas de casos, dentro de uma simples comunidade, e foi assim que, comecei a usar o sistema gratuito do Google Sites para, em princípio organizar os casos, mas foi tomando vulto e crescendo e crescendo até tornar-se o que é hoje. Infelizmente por ser um site gratuito, não há como criar um banco de dados e nem um mecanismo de busca e cadastro mais efetivo, assim, muitos assuntos estão perdidos em meio a tanta coisa publicada ali.
Não foram poucos os que já me prometeram um site mais adequado, com mais funções, mas fica sempre só na promessa. Desde o início, até hoje, tudo que existe no site é feito com muito amor mas sem recursos financeiros, sem ajuda alguma, ainda assim, tornou-se uma referência nacional devido ao conteúdo volumoso de informações que nele estão.

Desaparecidos do Brasil não é apenas mais um site, nem mais uma ong como tantos que tem por aí, ele é principalmente uma mão estendida àqueles que precisam de ajuda para buscar seus entes queridos desaparecidos. Confecciono cartazes com as fotos, realizo buscas dentro das minhas possibilidades e conhecimento, divulgo, procuro levar conforto e apoio quando percebo que são pessoas simples que estão ali pedindo ajuda sem possuírem conhecimento de internet. Acima de tudo, busco junto aos Órgãos Governamentais, Parlamentares e todos responsáveis por essa situação terrível de desamparo em que se encontram as milhares de famílias dos desaparecidos, uma solução à essa questão tão grave que é o desaparecimento de pessoas.

Com o passar dos anos, interagindo com tantas histórias, começa-se a compreender o que leva tanta gente a se tornar repentinamente um desaparecido, principalmente crianças e adolescentes, e fui me envolvendo num assunto um tanto delicado que é o tráfico humano, principal responsável por milhares das nossas crianças desaparecidas; causa que tenho abraçado com muito carinho, com o intuito de mais uma vez ajudar, mas tenho consciência que é o mesmo que pisar em areia movediça, extremamente arriscado, mesmo assim, sigo em frente, acreditando que, se tudo me foi colocado em mãos, alguma razão maior, para tudo isso, deve existir.

Amanda iab./ (Boldeke)

Desaparecidos do Brasil

Um trabalho de divulgação intenso que se espalhou por toda net, com a ajuda
de amigos inesquecíveis, Clarice foi um exemplo de como muitas pessoas se envolveram na busca por Jorge Gustavo.

Abaixo, mais um exemplo de solidariedade inestimável. Mensagens iguais a esta se espalharam por centenas de comunidades do Orkut ( Ainda não existiam Facebook, Twitter, etc..) Obrigada meu querido amigo, por tanta força que me deu e continua até hoje se dedicando a causa dos desaparecidos.