Notícias

A história de Lior do começo ao fim

Ele não desistiu

HISTÓRIA –  O destino de Lior começou a ser traçado alguns meses antes do seu nascimento, no verão de 1985, num país distante além do oceano. Um casal, em Israel, cuja mulher não conseguia engravidar, queria muito adotar uma criança, mas a espera pela adoção em seu país seria muito demorada, cerca de sete anos ou mais. Através de amigos, ficaram sabendo que no Brasil era muito fácil e rápido adotar crianças e que havia uma senhora que intermediava adoções pelo mundo inteiro e foi assim que eles foram apresentados a *Arlete Hilu, num hotel em Tel Aviv, Israel.

Foto: Júlio Cavalheiro Diário Catarinense “Órfãos do Brasil”. Jornalista Mônica Foltran. Ago/2013. Lior, no meio, junto de vários adotados.


Após o primeiro contato, estimulou-os a promessa de que teriam a criança em poucos dias e tudo foi preparado aparentemente de forma legal. O casal passou para uma pessoa  de nome *Vilma Ferreira Oliveira, que se dizia advogada, uma procuração para que intermediasse a adoção de um menino no Brasil, o qual desejavam chamar de Lior.

Alguns meses depois, no dia 5 de setembro, eles receberiam uma ligação do Brasil, com a notícia tão esperada. “Seu filho nasceu!”

Data da adoção da criança: 05/09/1985

Data de expedição do passaporte para Lior Vilk —- 16/setembro/1985. Saída do Brasil em companhia de Paulo Sergio Couto Ferreira,  em 17/09/1985.No dia 21 de setembro de 1985, Lior, levado por Paulo Sergio Couto Ferreira, desembarca no Aeroporto de Israel junto com outros dois bebês. No saguão do aeroporto estavam, os pais adotivos de Lior, os pais adotivos das outras duas crianças, Arlete Hilu e o advogado israelense *Enrique Bazurra.

Lior teve uma infância feliz. Na sua adolescência descobriu que era filho adotivo e havia nascido em um país distante: o Brasil. Nesse momento teve início um drama que abriu um ‘’buraco no meu coração’‘ como ele costuma dizer. A angústia que gerou aquela novidade em sua vida ele transformou em determinação: Descobrir toda história e encontrar a mãe biológica para que ela lhe contasse, com suas próprias palavras, os motivos do abandono. 

Mal sabia ele que ali começava uma busca que se estenderia por toda sua juventude.

Passou a enviar correspondência a vários órgãos do governo brasileiro, para a Embaixada e para a Secretaria dos Direitos Humanos. Em resposta a uma de suas cartas, (OAB 2010), recebeu a seguinte informação:  “Sr. Lior, Recebemos a sua mensagem e informamos que A Sra. Vilma Ferreira Oliveira não consta como inscrita como advogada em nenhum Estado brasileiro.”   Em seguida recebeu outra informação que o deixou estarrecido: “O Registro do seu nascimento no. (…), livro A-403 fls.63 de 05/09/1985 não tem com seu nome. Seu registro é falso. O registro de nascimento com o seu número é de uma menina fêmea de nome Daniele.” ” Não sei ainda se o próprio Tribunal de Justiça poderia localizar estas pessoas afastadas a tanto tempo e vir a responsabilizá-las […] “

Primeiro contato com nosso grupo de voluntárias

Certo dia, ele fez um apelo nos comentários de um fórum (site) brasileiro.  A mensagem traduzida pelo Google, dizia: 
“Bom dia! meu nome é Casey…eu não sei se minha pergunta pertencente. eu vou tentar…
o.k. eu adotado do brasil e moro em israel agora
quero descobrir minha biológica mãe muito muito!!! eu tenho minha mãe adotiva mãe israeli amor de minha vida!!! mas…eu não sei como viver a vida sem encontrar-se da minha mãe biológica
obrigado casey” (abril/2009)

Passaram-se algumas semanas, até que um dia alguém respondeu ao apelo. Era Andrea Marcondes, amiga de Sandra Chialastri, voluntária na busca por pais e filhos adotivos.  Elas ”adotaram” o menino Casey, dando-lhe todo carinho e atenção que ele tanto buscava. Realizaram pesquisas com os nomes que constavam nos documentos de adoção de Lior (esse era ao nome dele) e buscas pelo nome da mãe biológica, mas o resultado sempre retornava como dados não encontrados. O suposto nome da mãe (Izabel Alves dos Santos) possuía centenas de homônimos no Brasil, deixando uma grande sensação de frustração, de impotência diante daquilo.

Foi então que Sandrinha conversou comigo e decidimos (com a autorização dele) publicar a história no site da ASSOCIAÇÃO DESAPARECIDOS DO BRASIL afim de torná-la conhecida e a mãe biológica entrar em contato.

No decorrer dos meses e muitas buscas infrutíferas pelo paradeiro daquela mulher, nos deparamos com outras histórias, todas comoventes, inclusive de mães   que tiveram seus filhos raptados, vendidos e levados ao exterior para adoção ilegal através das quadrilhas que obtinham lucros fantásticos com a transação comercial de recém-nascidos. Nossas pesquisas nos levaram a uma personagem que ficou muito famosa nos anos 80 em todo o Brasil, principalmente no Paraná, Arlete Honorina Victor Hilu, uma mulher que intermediou a adoção de milhares e milhares de bebês, para diversos países, principalmente Israel.

Nos documentos dele, embora fossem falsificados, continham a informação que ele teria nascido em Curitiba (PR) e concentramos as buscas naquela cidade e locais próximos. Depois estendemos para todo o estado do PR e estados vizinhos onde havia ramificações da quadrilha. 

Com a divulgação no site, centenas de outros jovens, em outros países, também à procura pela família biológica brasileira, passaram a mandar e-mails com pedidos de ajuda, o que nos levou a formar um pequeno grupo solidário para esse fim.  Lior se juntou a nós ajudando como intérprete (depois de meses trocando ideias já dominava bem o português) e tornou-se um grande e querido amigo

Publicação no ND Notícias do Dia da Record de SC

Em agosto de 2011, conversei sobre o caso com a minha filha, que é jornalista e na época trabalhava para o ND Notícias do Dia da Record de SC e contei sobre a história dos adotados em busca de suas mães. Ela acatou a ideia, passou para a diretoria do jornal, que se interessaram pelo caso e ela realizou uma grande reportagem a partir de várias entrevistas com os adotados. A matéria intitulada “Em Busca do Passado” retratou em duas páginas todo o dilema que envolve a história deles, mas infelizmente não houve resposta de nenhuma mãe.

Mais um longo ano se passou, onde pudemos localizar várias mães, aumentando nossa esperança em relação  ao caso do nosso amigo.

Publicação no Diário Catarinense do Grupo RBS filiada da Globo

Em junho/2012, conversei novamente com a Mônica Foltran, minha filha, que agora trabalhava no Diário Catarinense, Grupo da RBS filiada da Globo, e mostrei a ela tudo que tínhamos realizado naquele ano, as nossas vitórias e também a frustração com o descaso das autoridades brasileiras em relação aos brasileiros adotados vítimas do tráfico infantil do passado. Perguntei se ela, mais uma vez, poderia fazer uma reportagem sobre o tema e ela, já conhecendo nossa luta, colocou em pauta, sendo posteriormente aceita pela diretoria do jornal. A partir das informações que já tínhamos levantado, com os dados dos adotados e suas supostas mães biológicas, as quais repassamos a equipe do jornal, Mônica Foltran realizou uma matéria fantástica, de grande vulto investigativo a qual foi denominada “Órfãos do Brasil” veiculada em rádio, jornal e TV.  A investigação que levou alguns meses, transcorreu em vários estados, inclusive ela se deslocou até Israel para entrevistar os jovens (foto) e seus pais adotivos para saber deles, como as adoções se sucederam.

Houve grande repercussão nacional, chegando a Brasília e a Ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos do Brasil foi questionada sobre providencias do governo. Ao se inteirar dos fatos prometeu ajuda aos nossos meninos de Israel.  Segundo ela, seria criada uma comissão, especialmente designada para atender aquelas vítimas do tráfico humano. (Infelizmente, na sequência, a pessoa designada para atendê-los não estava a par do problema ou apta para ajudá-los como seria necessário).

 A grande repercussão da série jornalística premiada (Órfãos do Brasil), redobrou nosso trabalho. Minha caixa de e-mail transbordava de mensagens vindas de outros países, histórias semelhantes ao do Lior. Vários casos abordados na reportagem também tiveram sucesso. (Diário Catarinense, 4 de agosto 2013).

Tivemos, então, duas situações:  De um lado filhos procurando pelas mães e do outro, mães procurando pelos filhos levados para alguma parte desconhecida do mundo. Mas as mães, muitas vezes, também vítimas não possuíam nenhuma informação além da data e local de nascimento, tornando impossível qualquer busca.

Em uma das entrevistas expus o problema: “Necessitamos, que o Governo Brasileiro disponibilize um Banco de DNA gratuito, para atender essa demanda tão grande de mães e filhos. Somente com o cruzamento de informações do DNA, haveria possibilidade de se chegar a um resultado positivo, visto as poucas informações que possuímos de ambos os lados.  (Amanda Boldeke – DC 5 de agosto 2013).

 I.Amanda Boldeke – Desaparecidos do Brasil.

Participação na novela Salve Jorge na rede Globo

Naqueles anos, nos quais estivemos revirando todos os Órgãos do governo, desde a Secretaria dos Direitos Humanos até os CEJAS de vários Estados, falamos com Secretários, Advogados, Juízes, buscamos em hospitais, em Organizações, vasculhando tudo, de ponta a ponta, munidas da nossa vontade e sem nenhum recurso financeiro, obtivemos grandes resultados com a localização de muitas famílias.

De tanto mexermos, o assunto ‘adoção ilegal e tráfico de pessoas’ veio à tona tornando-se tema de várias reportagens em jornais e TVs ao longo do Brasil.

Em 9 de Setembro, de 2011, Glória Perez, estava em busca de histórias sobre o tráfico de pessoas, tema de sua próxima novela, Salve Jorge. Em correspondência trocada comigo (Amanda), demonstrou interesse pela história dos bebês brasileiros vítimas de adoção ilegal.  Ao tomar conhecimento da nossa batalha, prometeu-nos ajudar através da novela. Isso foi maravilhoso!


From: gloriafperez@

Subject: Re: As Vítimas do Tráfico Humano

Date: Mon, 19 Sep 2011 18:09:24 -0300

To: contatodesaparecidos@gmail.com

Amanda,  a história é comovente! esse é um ângulo do tráfico de pessoas que pretendo abordar! ainda estou verde no assunto, só agora comecei a pesquisa! essa […] ou gente que atua como ela, eles tem uma fachada oficial? elas conseguem essas crianças? através de raptos ou “comprando”das familias pobres?Toda informação que você possa dar será fundamental para compor esse universo e fazer as denúncias que devem ser feitas! contem comigo!

abs

Gloria

Gloria M F Perez

http://gloriafperez.org

http://www.gloriafperez.net 

Desta data em diante, a equipe da Glória através da pesquisadora Julia Laks, uma pessoa extremamente querida, manteve contato   conosco. Contamos com detalhes de informações todo o esquema que envolveu a exportação de bebês ocorridos nos anos 80 e 90, para criarem um bloco na novela falando sobre a adoção ilegal, cujo tema principal seria o tráfico de pessoas. “SALVE JORGE” é o nome da próxima novela da Globo que mostrará à sociedade brasileira, a verdadeira dimensão do estrago que é feito na vida de pessoas coagidas pelas quadrilhas do tráfico humano, não só da adoção ilegal que envolve o comércio de bebês e crianças, mas todas as outras formas, como a exploração sexual e outros.

Em 08/11/2012 – Na segunda semana da novela, “Salve Jorge”, a promessa se cumpre.  Um capítulo foi designado a Associação Desaparecidos do Brasil e depois, ao longo da novela, depoimentos reais dos ‘nossos’ jovens que aceitaram aparecer na novela global. 

Todo e qualquer  agradecimento que eu faça, à Glória Perez, Julia  Laks, à Globo e toda equipe  será sempre muito pequeno diante da grandeza que isso significará para estes jovens em Israel e na Itália (sim tem histórias idênticas na Itália, EUA,  Canadá e outros países), pois acredito, que através da história fictícia, muitas mães estarão vendo a si próprias, lembrando seu passado e  haverão de procurar por esses filhos que um dia o destino separou, mas que a grandeza de Deus haverá de unir novamente.

I.Amanda Boldeke  – Novembro de 2012. Desaparecidos do Brasil              

Cenas da Novela Salve Jorge mostrando a página de Lior em nosso site.

Um Especial de fim de ano Domingão do Faustão – Globo

OS BASTIDORES – Em 18 de novembro de 2012, um domingo, Marina Ragusa, produtora do Domingão do Faustão ligou-me e ficamos conversando durante horas, onde ela queria saber todos os detalhes sobre os adotados, sobre o nosso trabalho, explicando que as informações seriam para o Programa Especial de Natal do Faustão. Pediu sigilo total porque pretendiam promover o encontro das mães com os filhos no palco, ao vivo, e para isso queriam a emoção da surpresa. Foi dito que a produção colocaria os melhores detetives do país no rastro da mãe de Lior e da Or Luz para levá-las ao palco. Repassamos todas as informações que havíamos levantado naqueles anos, atendendo ao pedido deles. Ficamos eufóricas com a possibilidade da mãe do Lior ser encontrada. Isso pareceu-nos uma certeza absoluta. Imagina! Os melhores profissionais com a estrutura da Globo! Depois de enviar e explicar cada caso com detalhes, nada mais me foi informado nas semanas seguintes, se haviam ou não encontrado as duas mães.  Também pediram para não falar nada com os meninos que seriam trazidos ao Brasil com uma desculpa qualquer.  Com a data se aproximando tentei novo contato. Queria saber quando os meninos viriam porque queríamos conhecê-los. Não houve resposta.

Em 23 de dezembro, eu e amigas voluntárias do nosso pequeno grupo, decidimos encarar a viagem por nossa conta.  Deixamos, em plena véspera de Natal, nossas famílias e seguimos em viagem, com despesas próprias, rumo às instalações da Globo, em São Paulo, onde aconteceria o Programa especial de Natal do Faustão. Chegamos com grande expectativa, camisetas personalizadas e faixa de boas-vindas aos nossos amigos israelenses. Antes da entrada, dos estúdios, esbarramos na burocracia e nas normas de segurança, um problemão para entrar porque não tínhamos agendado nada e só entrava quem estivesse com o nome na lista. Depois de muita conversa e explicações permitiram. No momento estávamos muito felizes e deixamos de lado o aborrecimento com aquelas horas cheias de protocolos que antecederam o show. Importava que finalmente veríamos concretizado não só o sonho deles, de encontrarem a mãe biológica, mas também o nosso de conhecê-los pessoalmente, porque durante todos esses anos apenas nos comunicamos com nossos filhos do coração (como os chamamos), através da internet e telefone e criou-se um vínculo de amor e amizade muito grande.

Programa fim de ano no Faustão.
Na foto: Eu, Sandrinha, Lindalva Matos, mãe e irmã de Sandrinha.

Doron Levner, cuja mãe Regina Lucia da Silva, encontrada por nosso grupo em 02/02/2012, junto com Yael Stein e Zuleide, sua mãe encontrada por meio da reportagem, foram os primeiros a serem chamados ao palco pelo Faustão. Foi pura emoção presenciar ao vivo esse reencontro tão esperado de quase três décadas das mães com seus filhos.

Or LUz Galon e Lior Vilk entraram logo em seguida de mãos dadas com o coração cheio de esperança de ali também verem suas mães, tal como seus amigos. Foi criada essa expectativa no coração deles pela produção. Eles mal compreendiam o que acontecia, iam respondendo às perguntas do Fausto, às vezes, através do intérprete e os olhos ansiosos em direção à porta lateral na esperança de ver ali surgir a ‘’Isabel Alves dos Santos’’ e “Lucia Dias Bento”. Isso eu vi estampado em suas feições, mas… não aconteceu… senti tristeza e decepção quando a entrevista terminou. Ali estávamos nós, com nossa faixa torcendo tanto, nos emocionando tanto e de repente o sentimento de frustração tomou conta de nós… mais uma vez! Queria tanto ter podido descer correndo e ido abraçá-los, mas o programa, cheio de seguranças, nada foi permitido.

Não foi fácil encontrar passagens de avião para aquele dia, véspera de Natal e minha volta já estava comprada, por isso não me foi possível vê-los de perto, nem conversar com eles, após o programa. Precisei sair antes para não perder o voo e isso só foi possível com a ajuda da querida Lindalva Matos, também voluntária, e seu marido que encararam uma viagem de carro até Guarulhos para eu chegar a tempo de embarcar. Felizmente, a Sandrinha, a Valdirene e mãezinha delas, que residem em Minas, tinha o voo marcado para mais tarde e seguiram até o hotel onde puderam conversar calmamente e abraçar muito nossos filhos do coração.  O programa foi ao vivo, mas o vídeo que consta na Globo foi editado e retirado dele a homenagem final e agradecimentos que Lior fez para nós, ali na frente o Faustão.

Agora é por conta das mães biológicas que, onde estiverem, que tenham coragem e se sensibilizem com o sofrimento de seus filhos que só querem conhecê-las, conhecer a história de vida deles, conhecer irmãos se tiverem…. É um direito deles.  Com tanta divulgação é impossível que elas não tenham visto e ouvido o apelo desses jovens, tirados dela ou doados ao nascer, levados para um país distante e pedem só um abraço, sem cobranças, sem julgamentos pois sabem que suas mães eram muito jovens e facilmente enganadas pelas quadrilhas do tráfico. Tenham coragem mães e acabem com tanto sofrimento!

Amanda Boldeke (2012)

O papel fundamental da tecnologia

ATUALIZAÇÃO: Estamos em 2023. Quatorze anos se passaram daquele dia longínquo onde aquele rapaz tímido, que não sabia falar português, chegou até mim.  Nesse longo percurso, ele procurou, insistiu e persistiu determinado num único objetivo: Descobrir sua história! Acompanhei cada passo, cada decepção, que não foram poucas. Um dia, ele falou: “Amanda, estou cansado”.  Eu lhe disse: “Lior, nosso tempo é diferente do tempo de Deus. Quando chegar a hora, você vai ter a resposta. Confia!”

Tornou-se conhecido pelas muitas entrevistas e repercussão de sua história. Criou um grande círculo de amizades e hoje fala e escreve perfeitamente o português. 

A tecnologia evoluiu e tornou-se a principal ferramenta para a busca biológica.  O meu apelo no jornal (2013) e contatos com autoridades pela criação de um Banco de DNA brasileiro para esse fim, não teve retorno.  Os ”nossos meninos”, como residem fora do Brasil e a maioria também fala o idioma inglês (além do seu próprio idioma), eles passaram a utilizar sites estrangeiros, como o MYHeritage, 23andMy, Ancestry e vários outros especializados em genealogia, onde, através de testes de DNA, puderam rastrear nesses bancos genéticos mundiais, possíveis parentes no Brasil. É um caminho, tortuoso, difícil e caro, porém traz resultados. Muitos filhos adotivos e famílias que procuram pelos filhos têm obtido sucesso e reencontrado parentes desse modo. Lior é um deles. Começou por descobrir elos de parentesco muito distantes através do MyHeritage e a partir dali inúmeros exames foram realizados com essas pessoas, por cerca de alguns anos, aumentando cada vez mais o círculo de parentescos, desde tataravós até parentes de segundo e primeiro grau.  

12/07/2022 01:21 – Lior Vilk: Amandaaaaa
12/07/2022 01:21 – Lior Vilk: Tô precisando de vc!!! […]13/07/2022 10:48 – Amanda: Lior de DEUS! Quanta informação..😲
Porque tá chorando meu menino??😟 chora não, por favor😭 
Faz as coisas com calma, sim?  Você já esperou tanto tempo, agora acalma teu coração… pensa com calma em tudo isso, sem pressa…

Lior: "5 anos atrás, eu fiz comprei kit desse banco, fiz o teste e mandei analisar. O banco coloca a análise nos arquivos de DNA dele e compara todas as amostras do banco com a sua e assim, achei filha de um primo meu, do lado paterno.
De lá pra cá fiz mais exames com primos dele e achei meia irmã, somos ligados de parte do pai apenas". 

Ele mora em Israel, com os pais que o criaram com muito amor, transformando-o num homem de caráter, honesto e trabalhador. Quando resolver definitivamente sua grande busca, que está, 99% concluída, ele já tem um novo sonho, mas esse final da história, ele mesmo irá contar brevemente.

Amanda  (maio 2023).

**In Memoriam –  Com tristeza informo que nossa irmãzinha Sandrinha, psicóloga da Associação Desaparecidos do Brasil, não mais está entre nós.


E assim concluímos esta história que abriu tantas portas.

A partir de muitos exames de DNA, Lior foi se aproximando cada vez mais de tios e primos que seriam possíveis parentes paternos. Cada nome que ia surgindo, Lior me passava e eram realizadas buscas para um possível contato. Foram meses na expectativa cada vez maior até que, finalmente, encontrou as tias maternas e ficou a um passo de chegar ao final de sua busca.

Lior: "Alguns meses atrás eu recebi notificação do banco de dados de que achei uma prima de primeiro a segundo grau do lado materno".


Março de 2023

11/03/2023 08:48 – Lior Vilk: Isso foi ontem à tarde noite
11/03/2023 08:48 – Amanda: Qual o nome?
11/03/2023 08:49 – Lior Vilk: Adelina Corrêa
11/03/2023 08:49 – Lior Vilk: Tem 62 anos
11/03/2023 08:49 – Amanda: 😲
11/03/2023 08:49 – Lior Vilk: Tenho mais dois irmãos
11/03/2023 08:49 – Lior Vilk: Todos levados para adoção
11/03/2023 08:49 – Amanda: 😍
11/03/2023 08:49 – Amanda: MEU DEUS!

A primeira conversa com sua mãe, Adelina, se deu através de vídeo chamada, ele em Israel, ela em Santa Catarina. Um momento único, exclusivo só para eles. Embora não houvessem dúvidas, ainda faltaria o teste de DNA para comprovar a maternidade. A vontade de Lior era de contar ao mundo toda a felicidade que explodia em seu coração mas teria que esperar até a comprovação final.

Ainda se passariam 7 meses até o encontro ser divulgado o que aconteceu em 6 de novembro de 2023, através da BBC News Brasil, matéria elaborada pela Jornalista Mônica Foltran – @monicafoltran -, cumprindo assim a promessa que Lior Vilk fez um dia, quando ainda procurava pela mãe, ele disse: “Mônica, você abriu a minha história em 2012 e você irá finalizá-la quando tudo isso terminar”.

Lior, após encontrar a mãe biológica, dona Adelina, decidiu permanecer no Brasil onde pretende estabelecer algum negócio e começar uma nova página em sua vida.
Parabéns Lior! Lhe desejo, em nome de toda equipe de voluntários que sempre estiveram presentes nessa busca, que você tenha muito sucesso nessa nova etapa da sua vida. Amanda/ @Amanda.Boldeke


BBC News Exclusivo | Brasileiro traficado para Israel quando bebê reencontra sua mãe:

‘Única verdade na minha história era a data de nascimento’

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c51wvp28zp1o

Reencontro de LIor Vilk com sua mãe após 37 anos.


Fotos e documentos publicados  no site com autorização:

Para Desaparecidos do Brasil.

© Reprodução permitida desde que autorizada pelo autor.  

 Direitos Autorais – Lei 9610/98 |

Por I.Amanda Boldeke – Junho de 2011