O drama das adoções internacionais
postado em 4 de mai. de 2014, 01:02 por DESAPARECIDOS DO BRASIL [ 29 de jul. de 2015, 03:08 atualizado(s) ]
Fevereiro de 2012
Da série – Onde estão nossas mães?
HISTÓRIAS EXCLUSIVAS DA ASSOCIAÇÃO – Proibida a reprodução das histórias. Autorização por escrito – Direitos Autorais
– Ela era linda. Pele clara, olhos verdes. Me lembro quando a enfermeira veio e a levou para o berçário. Foi a última vez que vi minha filha –
Foi em Dezembro de 2011 que recebemos o primeiro e-mail de Miriam Aumann de Israel, na época ainda solteira, em que ela nos enviava seus documentos de adoção e fotos para localizarmos sua mãe biológica no Brasil. Hoje já é casada e tem um lindo bebê.
Alair faz parte de um grupo de mães que tiveram seus filhos sequestrados há 26 anos atrás. Logo ao nascer, o bebê foi enviado ao exterior e lá adotado por um casal de israelenses.
A criança, uma menina, sempre soube do seu passado, que era nascida no Brasil, e hoje, já adulta e movida pelos seus sonhos, chegou até nosso grupo de voluntárias com a esperança de encontrar sua mãe biológica.
Não imaginávamos, na época, que haveriam tantos casos semelhantes onde a mãe ficou órfã do filhinho recém nascido, levado para o exterior pelas quadrilhas do tráfico de bebês.
Quando começamos a receber os casos de adoções irregulares internacionais, não havia informações na internet sobre o assunto e o aprendizado veio através de muito trabalho.
Meses e meses de pesquisas em bibliotecas empoeiradas procurando pistas através de antigas publicações em jornais. Fui buscar nas edições dos anos 80, do Diário Catarinense, para tentar achar pistas daquelas mães. ( fotos em anexo)
Finalmente, em fevereiro de 2012, a primeira esperança! E lá fomos eu e a amiga Isaura, representando nossas outras companheiras (os) do grupo ( Sandrinha (in Memorium), Cléo, Andréa, Mônica e Lior) rumo a Bombinhas/SC. Isaura saindo de Curitiba e eu de Floripa, nos encontramos lá.
A viajem, cheia de contratempos, um dos ônibus atrasou e perdemos o horário de almoço da ALAIR que estava no trabalho. Tivemos que esperá-la encerrar o expediente e só a tardinha então, pudemos finalmente trocar emoções. Tínhamos pouco tempo para conversar porque nosso ônibus sairia em meia hora.
Levei as fotos da Mirian e entreguei nas mãos da Alair que emocionada e admirada não parava de olhar a imagem. Naquele momento, passou pela sua cabeça os últimos 26 anos de dor e saudade da filha desaparecida que ela só viu ao nascer.
Então ela falou emocionada :– Ela era linda. Pele clara, olhos verdes. Me lembro quando a enfermeira veio e a levou para o berçário. Foi a última vez que vi minha filha – ” É a cara do irmão dela mais velho”
Agora precisamos da comprovação de um DNA para tirar qualquer dúvida que possa existir.
— Hoje, a Mirian em Israel, vai receber as fotos que tiramos da Alair, sua mãe biológica e daqui para a frente, esperamos que a sociedade nos ajude a encontrar outras centenas de mães que também tiveram seus bebês sequestrados e esperam por esse momento mágico do reencontro. Qualquer informação pode ser enviada para nosso email de contato.
Alair tem mais três filhos de outro casamento, irmãos que Miri, os quais ela quer muito conhecer.
O reencontro e abraços ainda vão ter que esperar um pouco, dependem de um exame DNA, que tem custos e infelizmente Alair não teria condições de pagar.
ALGUM TEMPO DEPOIS
Após termos localizado a Alair, não houve, de imediato um contato maior entre mãe e filha. A dor, as mágoas carregadas por tantos anos no coração da jovem adotada e talvez o medo, fizeram com que ela se retrair e não mais respondia as mensagens através do Facebook. Alair que havia ficado imensamente feliz ao receber notícias da filha, passou a ficar angustiada, perguntando a si mesma, por que a filha a estava despresando. Seria porque ela se envergonhou da pobreza da mãe?
Um longo ano se passou sem que houvesse uma aproximação maior. Miriam, nesse meio tempo casou, engravidou e teve um lindo bebê. Pelo Facebook a família biológica aqui no Brasil só pode acompanhar pelas fotos na rede. Só depois que o exame de DNA (05/2013) confirmou a maternidade da Alair com Mírin, é que o gelo começou a derreter. O processo de reaproximação é longo, tem seu tempo e com certeza ainda terão oportunidade de dar o abraço tão esperado.
Em 09/5/2013, recebemos o resultado do Laboratório Genético, onde os exames de DNA finalmente tiraram toda e qualquer dúvida em relação a maternidade e com um resultado de 99,99% está comprovado que as duas são mãe e filha!!
Nos velhos jornais encontrei a primeira pista de ALAIR – O depoimento dela, aos 22 anos, quando soube que a filha tinha sido levada para fora do país.
Parabéns família!
Que este resultado já previsto do exame genético, seja o
início de uma nova vida para mãe e filha, um dia separadas
pelo destino mas que a grandeza de Deus novamente uniu.
Que possam finalmente esquecer tudo que passou e recomeçar um novo
caminho de muita Paz, Amor, União e Harmonia.
São os votos meus e de toda equipe do Desaparecidos do Brasil
I.Amanda Boldeke